Ok, primeiramente, o que você deve entender é que o filme é, na verdade, sobre a Sweet Pea, não Babydoll. Isso fica claro em várias partes no filme, mas fica explícito logo no final, quando a própria Babydoll diz "Essa nunca foi a minha história".
Outra coisa que você deve ter em consciência é que nada do que acontece no filme está realmente acontecendo no plano real, nem mesmo o hospício. Tudo o que você vê são memórias e angústias, é a mente da Sweet Pea lutando contra as mágoas de tudo o que já aconteceu com ela e tentando libertar-se delas. Sabemos disso pela própria proposta do filme, que é mostrar que estamos em poder do que acontece conosco, que criamos e desconstruímos os mundos em que vivemos. Isso é sempre afirmado, mas analise as últimas frases a serem ditas: "Quem nos acorrenta? E quem tem a chave para nos libertar? É você. Você tem todas as armas que precisa. Agora, lute."
Apenas para lembrar-lhe que nada do que você viu estava realmente acontecendo, prestem atenção nesse garoto, ele aparece, primeiramente, na fantasia da guerra mundial e, depois, no final do filme, onde muita gente julga como "a parte real" dele. Bem, não é.
Por último, para entender o filme, é preciso que você entenda que Sweet Pea e Babydoll são a mesma pessoa. Calma, eu vou explicar: Babydoll é a projeção da vida que Sweet Pea tem vivido. Quando vemos Sweet Pea pela primeira vez, ela estava no "teatro", reencenando o seu passado através da Babydoll, com as cenas iniciais - notem que as cenas de abertura começam, também, num teatro, como se fossem uma performance. Prestem atenção na narração do começo - não é da Babydoll a voz que ouvimos, mas da Sweet Pea.
Quando Sweet Pea encara Babydoll pela primeira vez, ela está, também, encarando pela primeira vez a personificação das suas perturbações. Por trás, podemos ouvir Dr. Gorski dizer "Deixe a dor desaparecer, deixe o medo desaparecer, deixe a culpa desaparecer".
Ainda não está convencido? Uma das mágoas que Sweet Pea tenta superar é a morte da irmã e a sua culpa por não ter conseguido salvá-la, reafirmada durante todo o longa. Vemos o personagem - tanto Babydoll, quanto Sweet Pea - proteger a figura da irmã repetidamente, numa tentativa de se dizer que ela fez tudo o que foi possível para salvá-la, apesar de como as coisas acabaram por acontecer. Temos essa preocupação tanto na Babydoll com sua própria irmã, quanto Babydoll/Rocket (Babydoll salva Rocket do cozinheiro, assim como costumava salvá-la dos abusos que sofriam em outra realidade) e Sweet Pea/Rocket.
Ok, tendo essas 3 coisas em mente (é sobre Sweet Pea, nada é real e Babydoll=Sweet Pea), vamos entender o filme. Eu disse que Babydoll e Sweet Pea eram a mesma pessoa e são, mas além de representar as mágoas, Babydoll também representa o corpo de Sweet Pea, a objetificação que ela sofre dos homens, enquanto ela mesma é sua razão. Assim, introduzimos a lobotomia do filme. Infelizmente, no plano real, é o que acontece com o personagem. Enquanto lobotomizada, a mente de Sweet Pea protesta, se recusa a abandonar o corpo (esse é o filme que vemos), até, enfim, aceitar e se libertar. O escape é, na verdade, a libertação da mente, enquanto o corpo -Babydoll- é "sacrificado".
O filme seria como se ela tivesse o poder, através da mente, de interferir no seu destino e fazer-se ouvir. Como vemos nessa cena representada acima: "Pare! Tire isso de perto de mim! (...) Isso é uma piada, né? Me diga qual a razão disso? É para deixar as pessoas excitadas, eu posso ser uma colegial sexy, eu poderia ser até uma pobre doente mental, certo? Isso pode ser excitante. Mas o que é isso? Vegetal lobotomizado?"
Agora veja a análise do filme:
Com a história explicada, vamos a sobre o que o filme se trata, afinal, Sucker Punch é muito mais do que a história da Sweet Pea, apesar de já ser irada o suficiente pelo modo que é contada.
Sucker Punch foi muito criticado quando lançado, falaram que o filme não era mais que um sonho molhado de garoto, já que o filme está lotado de garotas em fantasias reveladoras, lutando com armas diversas, além de serem prostitutas em uma das realidades. Então o que seria se eu falasse que, na verdade, Sucker Punch é sobre o feminismo? E sobre a retomada do poder pelas mulheres?
Pois é, cada camada de realidade é uma época diferente que traduz a participação da mulher na sociedade. O hospício seria a segunda onda do movimento feminista, enquanto o bordel seria uma época mais antiga, onde as mulheres eram apenas objetos sexuais e a realidade das lutas seria a modernidade.
A dança de Babydoll hipnotiza os homens, ela está abraçando sua sexualidade - Sweet Pea afirma que a dança é sexual, é excitante, apesar de reprová-la, até o momento em que descobre o poder que ela causa nos homens. Elas usam, então, a objetificação dos homens contra eles mesmo, para conquistar o controle perdido.
A dança nos leva aos cenários da terceira realidade - a modernidade - onde vemos as mulheres badass, dentro de cenários da cultura pop, conquistando o seu espaço nesse clube do bolinha que tem sido o entretenimento.
O filme, por fim, pretende explorar esse empoderamento da mulher e do homem ao longo da história, analisar o poder que cada um exerce sobre o outro - "enquanto o homem pode fisicamente dominar a mulher, a mulher pode psicologicamente dominar o homem". Assim, temos as cenas de Blue e do High Roller também: no final, lobotomizada, Blue tenta abusar dela, mas sem sua mente, que há muito tinha se libertado, ele não tem nada, reafirmado na conversa de High Roller com Babydoll, do que realmente é uma relação de homem e mulher.
"É completamente físico. Eu posso ter o seu corpo, mas a verdadeira você, aquela intangível e indefinível faísca que você é, bem, isso eu nunca saberei, e, mesmo assim, é o que desejo (...) tudo que quero de você é um momento para te ter, não pela força, mas simplesmente como um homem e uma mulher. Para ver em seus olhos a simples verdade de que você se deu a mim livremente. Não porque você precisa, mas porque quer. (...) estou disposto a te dar liberdade (...) para ser feliz. Não feche seus olhos, olhe para mim. A liberdade para amar."
"É completamente físico. Eu posso ter o seu corpo, mas a verdadeira você, aquela intangível e indefinível faísca que você é, bem, isso eu nunca saberei, e, mesmo assim, é o que desejo (...) tudo que quero de você é um momento para te ter, não pela força, mas simplesmente como um homem e uma mulher. Para ver em seus olhos a simples verdade de que você se deu a mim livremente. Não porque você precisa, mas porque quer. (...) estou disposto a te dar liberdade (...) para ser feliz. Não feche seus olhos, olhe para mim. A liberdade para amar."
Agora vai assistir o filme de novo e faça a análise por si mesmo. Admito que quando vi o filme pela primeira vez nem imaginava quais os significados por trás, mas uma pequena pesquisa já foi de ajuda para interpretar Sucker Punch e agora vejo o filme de uma forma completamente diferente. Vou deixar o vídeo que me ajudou a entender o filme aqui embaixo, está em inglês, mas quem quiser se arriscar...:
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